quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pena

Sozinho. Te acostuma com a solidão, mas ela é viciosa e torna a companhia dos outros insuportável. Acabará condicionado a todos os porquês da solidão. Se isola, quer se proteger, dói o monólogo sem pauta, o claque-baque do sapato no palco faz eco na platéia de ninguém. Escuridão. As razões se esvaem e já não se procura enxergar, tateia o que tiver próximo e engole o pior dos mundos. O coração se esquece da nobreza e dos sentimentos puros, você já nem sabe de que cor que foi o último vislumbre do céu ou do calor que dá o sol quando te toca. Tristeza.

Dramático, o estertor da felicidade é a sua respiração. Na cama do desgraçado, um fiozinho está plugado na sua veia injetando esperança neste corpo cansado. Em seu testamento há poesias, há os romances, há olhares de uma vida feliz e alegre, mas que esquecera depois da queda.

Que queda?

Havia alguém em contracena. O contrarregra soou o sinalete para que trocassem os panos mas não houve diferença nenhuma, ninguém fez nada. Continuou tudo cinza. O monólogo foi ficando pesado. A débâcle humana, o triste fim de todos nós que só queremos ser queridos.

Por quem?

Às vênias dos antropólogos brindam os psicólogos. Para se entender o mundo, entenda a si primeiro. É triste que o discurso de todos não seja contemplado com a cultura de tantos lidos, mas devo expressar o que angustia o peito e aperta as entranhas. Que doutor curaria isso? Mulheres, paixões, amores, nada disso, isso tudo é prelúdio do desamor. Não encontrei quem me contradiga.

Cansei da minha razão.

Cansei da nobreza, cansei da minha estirpe, da minha educação. Os outros são bem piores e levam louros sem méritos. Pífio, pífio é o entendimento humano. A compreensão baila bêbada nos motes populares encrustados nessa ou naquela música ruim. Que pena que sinto.

De quem?

domingo, 18 de setembro de 2011

D'un hijo

"Estou em uma daquelas tardes veraneias em que o céu se escurece e de repente o dia é noite. O vento quente se esmiuça pelas janelas de tantas quantas casas e derruba vasos com as cortinas. O presságio da chuva despede uns dos outros os boleiros mirins na praia e a moça corre atrás da canga de várias cores que ganhou do namorado, pois que esta saiu voando pra brincar com o folguedo de sua dona.

Trovões, na metrópole os carros se avolumam à pressa da fuga do intransitável causado pelas enchentes. A tormenta se apresenta com pequenos pingos de garoa e muitos trovões que lhe anunciam, como trompetes à rainha, a chegada. Terrível, descabela a moçoila que corre pela rua Vergueiro e se esconde no botequim ou na loja de flores. São três da tarde e já parecem seis.

Os mendigos vão se escondendo embaixo dos parapeitos, toldos e papelões. O desgarro lhes acolhe como sempre, a tristeza lhes cobre os olhos de lágrimas enquanto se drogam à visão do desespero que se aproxima. A sujeira, a lama e o lixo subirão por estas ruas que ninguém lhes ladrilhou, pra destruir e ameaçar o pouco que ainda lhes é comum, e se perguntam "de quanta migalha se mata a fome de um homem?".

Em minha pueri domus abro um livro e requento um café pra fazer da melodia do trovejar à janela um pouco mais confortável, a chuva nos faz recolher-nos.

A tormenta, o mau presságio desespera quem está fora de casa, façamos, portanto, qualquer lugar de casa.

Estou no prelúdio d'uma. Quero fazer de casa tudo o que me envolve. Sei que durará pouco e já vi o que acontece logo depois. Depois do verão vem o outono, o inverno e aí sim a primavera. Me aperta o coração saber que vai chover tão forte no jardim desta casa. As flores que afogarão, a árvore que estremecerá, as formigas em pressa, os passarinhos sem cantar. Ah, como é forte o que vem dos céus.

Sei que dará tudo certo, sei que estaremos bem, mas ainda assim, gostaria de ficar trancado em meu quarto com o meu café e o meu saber até tudo passar, pra que o coração do lado de fora não intervisse e não fizesse do meu 'por certo' um 'talvez', quero que isso passe logo e que não divida a minha vida em um verão que nunca mais voltará, como que me prendesse a um outono eterno, sem primaveras e com os toques do inverno que, sem a sua presença, fariam de mim o mais infeliz de todos.

Rezo pra que tudo saia bem, por mais que seja algo simples, me aperta o coração."

À minha mãe, dona Mônica (dona dos Verões e das Primaveras, que cuidou de mim durante todos estes Outonos e Invernos e celebrou a chuva sempre que fomos à praia, ver o mar e a alegria de se distrair).

Me recordo que estava em Santo André, pequeno, no jardim de infância, quando fiquei preso na diretoria do Instituto Coração de Jesus, primeira escola, quando temi por sua ausência.

A chuva nos separou, lembro que d. Mônica trabalhava em uma empresa na Avenida dos Estados e aquele dia uma forte enchente não deixou que nos buscasse na escola. A diretora ficou cuidando de nós até que você chegasse, e o aperto que sentimos no coração foi ao avesso de alegria quando nos reencontramos. Eu era pequeno, eu e meu irmão sentimos uma pontada de desespero, mas que não vingava pois você sempre nos ensinou que no fim dá tudo certo. Nunca foi uma aula professoral, ditada por regras e palavras na lousa, mas lições de vida mesmo, daquelas que nós percebemos em silêncio, quando choramos juntos ou quando sorrimos juntos.

O amor que sinto por você descabe em palavras, como naquela música do Roberto Carlos que cantávamos quando chegamos ao Externato em São Caetano, no dia das Mães.

Me lembro também de uma cena que sem querer, me ensinou tudo o que deve ser uma família.

Chegando em casa, em uma tarde veraneia, como a do texto, após um futebol em que eu era o boleiro mirim, nos deparamos com um ar triste e pesado, um cheiro de flores e uma voz latina cantando que envolvia todo o ambiente, saída de um rádio que quase reproduzia uma vitrola, dos idos em que você veio do Chile...

Tio Pancho tinha se ido e você sentia, de coração partido, a partida d'aquele que não via há anos. A memória do quanto passaram juntos e todo aquele amor que tinha guardado veio à tona quando soube de sua partida. Família é passar junto...

Eis que a injustiça está nos momentos de que compartilhamos sem saber do quanto estamos juntos. Ah D. Mônica, o que seria de nós sem você? As lições mais importantes nos mostrou, nunca com palavras, com atos terminados em um abraço e um beijo, quanto amor existe entre nós que nunca manifestamos?

Fez de mim um ser ocupado e preocupado, sério e aplicado, você diria. Mas saiba que sou alegre e bebo à saúde dos que amamos, assim como você. Não sou sisudo do tipo que desencanta, primo por um futuro que te orgulhe, e sei que chegarei lá. Lembra quando no discurso de formatura do Médio abrimos falando que te amávamos?

Mesmo que não diga, saiba que te amamos do mais fundo lugar de nossos corações. Tão fundo que às vezes nos esquecemos, mas vem à tona de forma a por em cheque a nossa essência toda vez que conseguimos algo grandioso ou que perdemos algo importante. O meu amor por você mãe, me fez completo e me fez bondoso, do tipo que procurará a Justiça, que devolverá o dinheiro recebido por mal, que não fará mal à moça alguma, do tipo tímido que admite não se drogar ou que se diverte por divertir-se mesmo, que gosta de uma boa companhia e se encanta por olhares.

Me fez esforçado, me fez não querer férias, me fez se espelhar em uma senhora que criou três rapazes sozinha. Obrigado por tudo, você é e será sempre o meu norte quando todas as razões me faltarem, quando me desesperar, quando estiver abandonado em uma tarde chuvosa, nos momentos mais escuros e mais terríveis de minha vida sei que estarei confortado por seu amor eterno, pois que você me dá essa certeza sempre.

Não consigo terminar um texto cuja essência não tem fim, e portanto, completarei este daqui a algumas semanas, quando estaremos sorrindo diante do meu presságio!

Beijos mãe, eu te amo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Modelo Simples - Representação

Carta de Representação

Declaro, para os fins de direito que desta puderem decorrer, representar os empregados do Centro Acadêmico da Faculdade de Engenharia Mauá, nos moldes da Normativa Nº. 05 que estabelece a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, com poderes outorgados por Paulo Modesto, presidente do Centro Acadêmico, sediado no prédio da mesma.

São Caetano do Sul, 21 de Julho de 2.011.


__________
Nome
C.P.F.
Secretária - Centro Acadêmico

sábado, 25 de junho de 2011

Penhor

"Eu gostaria de saber se você está disposta a ceder, sabe? Querer é ceder. Não sem dor, deixamos de satisfazer pedaços de uma obra do ego para nos dedicarmos a uma obra em pares. Aqui, no desvelar dos eventos de nossas vidas, eu tenho você. Você como platéia e atriz ao mesmo tempo, protagonizando ou não. Afinal, daquelas citações que tiro dos livros tirados dos séculos, tento te demonstrar o espetáculo que é a vida, à qual podemos por roteiro se quisermos, em uma conversa como esta. Preocupada em se prevenir, você se tranca em seu coração (como se isso bastasse para que ele parasse de sangrar), não atua para si, vivendo pra outros. Faz dos seus sentimentos uma pauta pro sorrir do desdém alheio, o que está errado. Tenho uma proposta. Proponho montarmos juntos este drama em que, não importando como suportaremos a investida dos malgrados e do mau humor, sorriremos juntos, cada um para si e para o outro, pois afinal, é apenas com um pedaço seu - como um sorriso - que estarei completo. Neste texto, lhe entrego este pedaço para que o agarre e faça dele um alento, um penhor de minha proposta, enquanto você começa a confiar em mim. Sou antes de mais nada, um amigo.

É uma pena que eu advogue tão pouco por tanto, sob a pena de apostar dores, me acovardo diante de teus olhos."

domingo, 22 de maio de 2011

Júri


Nos apresentam o mármore gelado, a madeira antiga da mobília forense e as becas, togas, gravatas, martelos e timbres em um gládio por Justiça. O que nos resta é procurar nos olhos dos combatentes um resquício de humanidade, que se agarra à paixão pelo debate e ama as causas que defende. Os advogados em pé, em um xadrez terrível, têm em mãos o destino de um homem, de uma verdade e de umas mentiras, têm em mãos os abraços de uma família, o tempo que não voltará de dentro das grades, a desgraça que sucede à sentença. Têm à frente uma deusa a convencer, de balança estendida e uma espada em descanso, que vendada espera que a verdade lhe pese bem para não ter que ferir ninguém ao punir sem medida.

"O juiz é um homem ou uma mulher como qualquer outra pessoa nesta sala. Esta audiência é um instrumento para elucidarmos os fatos e pormos à prova o que eu digo e o que diz a promotora.

O réu, o acusado, esta pessoa que senta à frente dos senhores é mal visto. Está em desigualdade pois sobre ele recaíram as suspeitas. Fundamentadas no conjunto probatório tão bem estruturado pela nossa polícia, ele estava, de acordo com os autos, no local e horário do crime. O motivo não nos foi explicitado ao certo, ao passo que se faz acreditar que o acusado matou para encobrir outro crime, o roubo de uma motocicleta.

Ele é, de fato, suspeito. Mas lhes pergunto se é mesmo o assassino. Os senhores podem muito bem se pautar na excelente parábola da acusação, podem acolher para si como verdade aquela que o Ministério Público julgou por bem ser melhor ao povo, podem tomar partido aqui, já que todas as suspeitas recaem sobre este homem aqui sentado.

Mas lhes convido, neste preâmbulo, a pensarem o contrário. Lhes convido a pensarem que ali está sentado um par dos senhores. Um amigo, um familiar, um inocente. Pois se for inocente, meus caros jurados, ele não tem menor direito do que vocês que hoje julgam, porquanto em paridade. Este provável assassino é também, na mesma igualdade, um provável injustiçado. Pior, já é um injustiçado por certo. Pois que sobre ele recaiu a terrível coincidência de ter encontrado a vítima desfalecida naquele pátio. Não existe meia justiça sem que haja meia injustiça.

Inocente, tão inocente que resolveu ajudar um moribundo. Não é um homem mau, não é um homicida, um desvirtuado. É apenas um desgraçado.

Complacência. Não condicionem os seus votos à crueldade e debilidade do crime cometido por sabe-se-lá quem. Condicionem as consequências da prisão de um inocente. Esqueçam o crime, vejam este espetáculo que está a começar apenas como uma formação de opinião. Não pensem na vítima, na família. Pensem neste homem, pois quanto ao morto já não há mais o que ser feito, há apenas a oportunidade de fazermos justiça e, se culminarmos em algo diferente disso, teremos acabado com duas vidas e tomado nosso tempo em vão.

A acusação fará de tudo para incriminá-lo, dando vestes às provas de legítimas e incontestáveis. Mas peço que se pautem nisso. Seriam estas de fato legítimas e incontestáveis ? Há espaço para dúvida ? Pois se houver, e condenarem um homem por inclinação a uma dúvida, peço que rezem para que nunca, nunca mesmo, um par dos senhores, um amigo ou um familiar, sente-se aonde ele se senta agora, com a inocência nos olhos e a alma serena, a consciência leve e um enorme receio de que sua vida seja decidida por uma justiça viciada, por uma pena descabida ou um júri hesitante.

Estejam certos e que Deus os acompanhe, vamos às provas. Façam juízo de si mesmos primeiro e depois, tranquilos, se convençam do que melhor parecer. Só não votem para condenar se lhes faltar a mais pura certeza, pois o assassino, meus caros, foi outro."

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Letter to Sorbonne


I've had a glimpse of the future in an old friend's word.

We had a chat on a bar, holding beer cans. Sipping a booze, we're easily the best friends of advices and compliments. I was there on friday. He said kind words on my professional achievements, on my efforts and on how I'm so talented. I'm gonna' be a great lawyer, on his prediction, I'll work hard on this, at mine.

Afterwhile, I saw a girlfriend and explained myself. I said that I don't have enough time for dating at this point. In my heart I do start to understand that life became more worryable than before, when young. In the gap between the boy and the lad, I made some improvements, learned a little something about law, about books, about people and let go some unbearable bricks out of my first plans on life.

Explaining, ha, its funny to write about explanations after this weekend. We had to explain to ourselves why we were choosing a comissioner company instead of other to agency our graduation party on saturday. The meeting lasted in totum 12 hours before our decision. After long discussion with not-so-well informed counselors of this or that cause, we finally decided. There is this dictation on France that says that parlant beaucoup nes disent jamais rien, and that's pretty much an abstract of what happened at the comission's meeting.

This decision will reflect on a party that's gonna happen in two years, after we graduate. In a funny ratio, my friend, the lack of time, those hasty decisions and the explaining to my lover are connected to my success.

In order to write that down on the past, after these years, I'll have to predict, to explain, to perform and decide. That doesn't sound easy, but it is just on this language's fault.

I'm sleepless right now, when those monday-coming obligations at the office inviting me to sleep look so unfair.

Ma non troppo, young pezzo da novanta ! Before the top, the mountain (or monday, as it seems).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Me explico, logo, não logo.

Negligencio meus horários, minhas obrigações e minha rotina. Estou fazendo o que de jovem, o que a audácia permite e o que reprimendas recolhem.

Não tive a oportunidade de me apresentar ainda para muitos. Brinco com alguns de que tenho algum tipo de esquizofrenia, uma ataraxia que separa meu ID e meu superego em coadjuvante ou ator cada um, dependendo do meu humor. Não há meio termo e isso fica claro quando lidamos com a máxima sobriedade ou o seu contrário, antepostos.

A saber, sou muito sóbrio do que devo, do que posso e do que pretendo. Não fico me enfiando em desculpas e mentiras a fim de explicar como que sou. A maioria faz assim mas eu não. Sou muito simples na verdade.

Sou do tipo de quem procura. Procura o que não existe, talvez. Meu par ideal eu perdi faz tempo, quando coloquei o adjetivo aí na frente. Idealistas, chamei os calouros assim em uma conversa de boteco. É coisa de quem é fresco, novo no ramo, o idealismo. Me irrita às vezes, mas admito que tenho uma ilusão deste tipo também quanto ao amor, por exemplo.

Idealizo e daí me isolo. Sou daqueles que lêem muito, e daí Schopenhauer disse que eu devo, por isso, pensar pouco. Talvez seja isso mesmo, falta ócio no meu raciocínio. Falta amor na minha vontade. Falta paixão, falta muito de tudo, por isso que tenho tanta vontade de escrever o tempo todo e saber como se sentem todos os outros.

Por isso que quero saber dos detalhes sombrios dos romances, por isso que prefiro os dramas, por isso que talvez eu prefira saber de quem perdeu do que de quem ganhou. Por isso que glorifico os derrotados, o esforço e a humildade. Não sei, estou pesado e embriagado, estou escrevendo o que vem de momento, não pensei em roteiro pra este texto.

Não pus enredo em minha vida, não escolhi atores ou matéria a ser tratada, estou em um descortinar sem falas, somente improviso. Improvisando, quem sabe, eu saiba o que estou fazendo. Mas é sempre um passo maior que a perna. O soar da claquete e o burburinho das madamas e dos monsieurs, finjo a comédia e espero os aplausos, ainda sabendo que a tragédia é mais contundente e memorável do que os sorrisos e os soslaios. Prova disso é de Goya e seu 'Saturno', mas isso já são outros quinhentos, já está tarde e amanhã tenho uma gravata a vestir.

Em tempo, procurem me ver dos dois lados, pois descalço e à brisa de veraneio me divirto, mas em todo o resto eu sou puro propósito. A seriedade não me imponho quase nunca, pois sinto que me pesa o tempo ao qual não sou obrigado, visto que já perdi tempo demais com cumprimentos e desdenhosos bons porquês, só porque fui bem educado, mas a educação e a boa classe no fim das contas são permissões que nos damos para não arriscarmos uma imagem, um quê de sociais que temos, uma sombra que Platão bem descreveu.

De fato, concluo que a imagem que lhes dou com horários, obrigações e rotina é só o brevíssimo que têm a ver da completude que encerro atrás desta retina. Cansada, ela é incontrolável enquanto porta da alma, do sereno e do agitado, do ID e do super-ego, do ser e do dever ser. Todos somos assim, contidos. Deve ser por isso que às vezes a íris é mais clara, e deve ser por isso (e espero que seja) que fico entediado.